Marcelo Dutra da Silva
As boas práticas de governança aplicadas à gestão municipal
Marcelo Dutra da Silva
Ecólogo
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O maior pesadelo de qualquer grande cidade é a falta de planejamento e controle das informações. E quem me acompanha já leu isso muitas vezes. Sem um plano, a gestão se perde e fica mais difícil para o Executivo definir prioridades, inclusive as ambientais. E quando não se tem algo que oriente o que deve ser realizado primeiro, tudo passa a ser importante, nada do que se começa é concluído no prazo e toda decisão se mostra confusa e pouco transparente. Em alguns casos, a administração fica tão fragilizada que se sujeita a pressões, tornando-se refém dos interesses e de grupos que fazem uso de todo tipo de ferramenta, inclusive influenciando mudanças na Lei, para garantir seus objetivos mais sórdidos.
Nada parece ser capaz de resistir ao nosso modelo selvagem de transformação do espaço urbano. Digo nosso em referência ao tipo de sociedade urbana perigosa e desconectada que criamos. Enquanto construções avançam sobre o natural do entorno urbano e o pouco que sobrou dentro da cidade, sem avaliar as consequências, parte da indústria e das operações portuárias se mantêm no limite da Lei, sem considerar alguns princípios básicos na trajetória do desenvolvimento. A lógica que muitas vezes se impõe _ no ímpeto cego do investimento _, na prática, apenas promove desigualdades e nenhum desenvolvimento. E o fato de não planejarmos e de nem mesmo refletirmos sobre que tipo de cidade injusta e pobre estamos construindo acaba por criar distâncias entre as decisões e os interesses difusos da sociedade, o bem comum, o conforto, a segurança e a vida social sustentável.
Entretanto, bons exemplos me dizem que esta lógica vai mudar completamente. Boas práticas de governança e responsabilidade socioambiental aplicadas à gestão pública, dentro dos princípios ESG (Environmental, Social and corporate Governance), estão sendo adotadas por toda parte. É a agenda A3P da administração pública, conduzida pelo Ministério do Meio Ambiente. Governos, até então, resistentes ao debate ambiental e ao reconhecimento do impacto socioeconômico de suas decisões vêm mudando de postura. Uma mudança tênue de comportamento que primeiro se viu em grandes empresas, depois nas menores e que agora chega ao poder público, em todas as esferas.
O ESG transcende valores que vão além da importância material do negócio. É uma espécie de análise do risco financeiro, com base na ética, na responsabilidade, no bem-estar humano, no relacionamento de impacto e na tomada de decisões. Portanto, já não importa tanto se é mais uma oportunidade vantajosa de investimento, todas as expectativas podem virar pó, da noite para o dia, a depender da reputação do negócio, do risco associado e das perdas que a ausência de boas práticas pode representar. E o mesmo raciocínio começa a ser feito na administração pública.
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